O principal trunfo com que os projetos em cripto contam é a criação e integração de ativos digitais, os chamados tokens, que podem mudar radicalmente o funcionamento de um negócio.
Isso significa que um negócio antes inviável pode se tornar lucrativo graças à inserção de um token. Por outro lado, mesmo um bom negócio pode se tornar insustentável caso esse token seja mal inserido em seu projeto.
Neste primeiro artigo, a Crypthi vai abordar os principais elementos da tokenomics, uma área em ascensão que pesquisa a integração de tokens cripto a diferentes projetos.
A emissão de tokens: incentivando usuários
O principal componente de um token é a sua inflação. Os projetos que lançam um criptoativo podem usar sua emissão para diversas finalidades: financiar investimentos; fornecer incentivos à adoção; ou recompensar e punir comportamentos de parceiros.
A emissão de ativos é uma ferramenta muito poderosa, mas traz também riscos, por isso é preciso gerenciar seu volume: uma inflação alta permitirá distribuir mais incentivos, mas vai diluir o ativo, trazendo maior pressão vendedora e, consequentemente, desvalorização.
Já uma inflação baixa traz o cenário oposto: preserva melhor o valor desse ativo no longo prazo, o que pode incentivar mesmo pessoas a mantê-lo no longo prazo. Em contrapartida, deixa disponíveis menos recursos para distribuir incentivos.
Esse dilema entre os prós e contras do uso da emissão de um token é similar ao de um governo. Injetar dinheiro na economia pode impulsionar o crescimento de um país, mas por outro lado, tende a desvalorizar a moeda. Por isso, ele deve decidir até que ponto usar essa artimanha, e é bem fácil perder a mão.
Há ainda que se levar em conta o risco de um concorrente atrair os usuários de um serviço simplesmente ao oferecer incentivos maiores para eles com o próprio token.
Burning: valorizando um ativo pela deflação
Mas não é apenas a inflação de tokens que pode ser usada como uma arma para impulsionar projetos cripto: alguns optam pelo caminho contrário.
O projeto pode apostar em mecanismos de “queima” de tokens para reduzir sua oferta em vez de aumentá-la. Essa queima de tokens é conhecida como “burning” e consiste em enviar os ativos para um endereço inválido através da blockchain. Assim os ativos saem de circulação de forma permanente.
Aqui o foco da tokenomics deixa se ser a distribuição de recompensas para incentivar o uso do produto. Em vez disso passamos a gerar uma escassez progressiva do ativo para turbinar sua valorização.
Assim, incentivamos as pessoas a comprar o token como uma reserva de valor. É o que faz a Binance com o BNB ao usar seus lucros para comprar tokens e queimá-los.
Mas é importante lembrar que esse fundamento do token como reserva de valor só será efetiva se houver um bom produto que traga uma funcionalidade clara para ele. Afinal, algo inútil não será mais valorizado só porque se tornou mais escasso.
Distribuindo o token
Por fim, o outro componente-chave por trás da economia de um token é sua distribuição. É importante ter bem conciliado o equilíbrio entre as parcelas do token distribuídas entre diferentes grupos, especialmente entre o time por trás do projeto e seus usuários.
É interessante reservar uma boa parcela do token para incentivos à adoção e à expansão do projeto. Pode ser útil também manter uma reserva de tokens em um tesouro para uso posterior, já que o projeto pode tomar rumos inesperados.
O time, em geral, reserva para si parcelas do token como forma de remuneração. Mas ficar com uma fatia muito grande tende a deixar menos recursos para incentivos a usuários ou para o financiamento do projeto, além de não ser bem visto.
Há grandes projetos em cripto nos quais o time chegou a reservar 50%, ou até mais dos tokens, mas o público costuma considerar uma distribuição justa algo entre 20 e 30%.
Caso o foco do time ao lançar o token seja financiar o projeto, pode reservar parte da oferta do token para uma venda inicial. Pode focar tanto no varejo, com um lançamento semelhante a um IPO, como no smart money de VCs, através de rodadas privadas.
Considerações finais
A tokenomics é uma área em ascensão que oferece novas perspectivas para projetos. É especialmente utilizada em projetos da Web3, mas pode ser aplicada aos mais diversos modelos de negócio conforme os objetivos e as condições atuais do projeto.
A grande diferença desses ativos (tokens) para os tradicionais é que a quantidade deles pode ser diluída ou contraída; ou ainda redistribuída. Mas como isso gera uma pressão de oferta, é importante que o ativo tenha como contrapartida um fator para sua demanda.
Lembre-se de que o uso adequado de tokens pode trazer uma grande vantagem para seu projeto, mas também pode fazer o mesmo pelos seus concorrentes: outros projetos podem apenas copiar seu modelo de negócio e dar incentivos maiores para tomar sua base de usuários.